Contar uma história nem sempre é fácil, ainda que seja a nossa história. Hoje enchi-me de coragem, e decidi escrever!
Olá, eu sou a Paula, tenho 44 anos e neste momento resido em Odivelas.
Sou filha única, e sei que o facto de ter nascido quando a minha mãe já tinha 36 anos, influenciou a forma como os meus pais sempre me protegeram, que se revelou muitas vezes sufocante.
Claro que tudo isso teve consequências na minha personalidade, e resultou numa enorme falta de autoestima e dependência emocional.
Os anos foram passando, e não consegui entrar para a faculdade pública, pelo que resolvi ir trabalhar para um call center e estudar à noite.
Algum tempo depois, conheci o conceito de “emprego seguro”, e lá ingressei na função pública. Olhando para trás, lembro-me de não ter ficado muito satisfeita com a pressão dos meus pais para aceitar a proposta, contudo acabei por ceder.
Terminei a faculdade aos 23 anos e, ao fim de um ano e meio de namoro, convenci-me que estava perdidamente apaixonada! Então decidi casar, e hoje sei bem que essa foi a minha desculpa para sair de casa.
O casamento durou 3 anos e foi o primeiro grande erro da minha vida: o meu marido revelou-se abusivo e dominador, e o que me doía mais eram os maus tratos psicológicos. Sentia-me impotente, e não podia contar a ninguém, pois a decisão de casar tinha sido minha…
O meu segundo erro: começar a comer de modo irracional… eu queria tanto anestesiar as minhas dores, que sentia real prazer na comida! A partir daqui, foi um caminho sem retorno. Apesar disso, com 26 anos tive um ato de coragem, saí de casa sem nada (tive que voltar a viver com os meus pais) e pedi o divórcio.
Passei o ano de 2004 a tentar reconstruir e aproveitar a minha vida, mas a comida era sempre o refúgio para quando tudo corria menos bem. Na realidade, era mesmo a desculpa perfeita para tudo e mais alguma coisa.
Pelo caminho, fui viver sozinha, tive outra relação abusiva, perdi um bebé, perdi o mau pai (o meu pilar) e resolvi finalmente fechar-me na minha carapaça (sim, sou carangueja!), onde durante muitos anos a comida foi a única companheira. E fui deixando o tempo passar, acomodei-me a uma vida confortável, sem nunca perceber porque não me sentia verdadeiramente feliz.
Em 2017, fui diagnosticada com síndrome vertiginoso, comecei também a ter crises alérgicas que me obrigavam a ficar em repouso absoluto, e encontrei mais uma desculpa perfeita para comer como se não houvesse amanhã. E não fui capaz de perceber o mal que me fazia.
Sabes o que é crescer com a tua mãe a fazer dietas restritivas e infelizes, que a faziam ganhar o dobro do peso quando as terminava? Sabes o que é ouvir a tua mãe dizer que devias fazer dieta, e tu responderes que “nem pensar, a comida é a única alegria da minha vida, jamais farei dieta”? Sabes o que é ir às compras e sair frustrada por não encontrar roupa que gostasse e me servisse? Sabes o que é deixar de ir à praia porque não me queria despir em público? Sabes o que é sofrer com dores nas costas por pesar perto de 100kg?
Em 2019, o desespero era tanto, que comprei online um programa de reeducação alimentar, sem pensar muito no que estava a fazer… e isso acabou por mudar completamente a minha vida!
A minha mãe achou que era dinheiro mal gasto, e disse-me que não ia conseguir emagrecer assim. O meu companheiro também não ficou muito convencido, embora me tenha apoiado durante todo o processo, que foi um enorme desafio. Houve dois motivos muito fortes que me levaram a não desistir: ter resultados a partir da primeira semana e nunca ter passado fome.
Na realidade, foram menos 27kg em 8 meses. E partir daí, eu mudei.
Fiz formação em PNL e desenvolvimento humano, recuperei a auto estima, deixei para trás 23 anos de um emprego seguro, e lancei em 2020, o meu Loveshine.
E hoje decidi partilhar tudo isto, porque quero que saibas como me senti: sem motivação, com desculpas para tudo, infeliz, de mal com a vida…
Agora sei a força que tenho em mim e quero inspirar-te a fazer mais e melhor por ti!
Chorei muito ao escrever tudo isto, as memórias são dolorosas, contudo muito necessárias para fechar uma última ferida. Ainda estou a recuperar de um burnout, porque durante anos não fui capaz de pedir ajuda. Honestamente, desejo que não passes por isso.
Estou por aqui! Grata por me leres.
Olá Paula! Estive a ler a sua história, pelo que não podia deixar de dar lhe dar os parabéns pela sua coragem. De facto, partilhar nossas histórias é um encorajamento para outras mulheres (e homens, claro)… É perceber que não estamos sós e todos temos momentos difíceis, mas que também não são definitivos e sempre há novos caminhos e novas oportunidades. Receba um abraço e muito sucesso neste novo projeto!